
Estamos numa corrida contra o tempo — adoecemos o planeta e os sintomas já se fazem sentir. Precisamos de um viver mais sustentável e de adotar de medidas que nos permitam ganhar a batalha contra as alterações climáticas. Uma das maiores preocupações tem sido a de encontrar formas mais sustentáveis de gerar energia sem depender de combustíveis fósseis, poluentes e não renováveis.
Para além do sol, do vento, da força das ondas e das marés, dos rios e dos lagos, parece que também as plantas são capazes de gerar eletricidade, graças à fotossíntese — processo através do qual utilizam energia solar para transformar água e sais minerais em oxigénio e alimento, para que se desenvolvam de modo saudável.
Em 2015, investigadores da Universidade de Cambridge, em Inglaterra, já tinham estudado formas de transformar a energia produzida pelas plantas e pelas algas em painéis solares biológicos. Antes disso, em 2009, nascia nos Países Baixos, o projeto Plant-e, testado com sucesso num jardim de 15 m² da Univerdade de Wageningen, onde foi criado. A energia gerada na altura serviu para carregar a bateria de um telemóvel.
O Plant-e
Fundado por Marjolein Helder e David Strik, o Plant-e nasceu no sub-departamento de Tecnologia Ambiental da Universidade de Wageningen e nunca mais parou de crescer.
Mais de dez anos volvidos, tem em mãos vários projetos nacionais e internacionais e já arrecadou alguns prémios. A empresa gera eletricidade através das plantas e, para isso, trabalha com sistemas tubulares — de mangueira — que podem ser instalados acima ou abaixo do solo, sem qualquer impacto negativo no mesmo.
Como funciona a tecnologia Plant-e?
Através da fotossíntese, as plantas produzem oxigénio e material orgânico que é transportado no seu interior. Parte deste material é expelido pelas raízes e as bactérias que as envolvem decompoem-no, libertando eletrões e protões durante o processo. Os eletrões são captados por um ânodo — um elétrodo condutor de eletricidade por onde entra a corrente elétrica — o pólo negativo da bateria da planta, fluem através de um fio e podem ser usados como eletricidade. Para fluírem, precisam de um pólo oposto, positivo — o cátodo, elétrodo a partir do qual a corrente vai sair. Os eletrões entram em contacto com o oxigénio e os protões reagem com a água.
Apesar de se tratar de uma tecnologia desconhecida por muitos, tem muitas vantagens associadas: para além das zero emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, as plantas contribuem para um ambiente mais calmo, tranquilo e agradável, seja no exterior ou no interior das casas e o processo nao deverá ter um impacto negativo nos ecossistemas. De acordo com os estudos realizados, o crescimento das plantas não é afetado por esta técnica. Finalmente, este modo de produção de energia pode ser muito positivo em grande escala: um arrozal pode ser não só um local de produção de alimento, mas também de eletricidade; a iluminação pública pode estar ligada aos parques e às arvores das cidades, as florestas podem ser locais de produção de energia.
O Park van Morgen, em Roterdão, foi inaugurado em novembro de 2019 e é iluminado através deste sistema, num trabalho conjunto entre o Plant-e e a Nova Innova, a empresa por detrás de uma lâmpada muito especial — a Living Light.
A Living Light
Desenvolvida pela designer holandesa Ermi van Oers, esta lâmpada gera eletricidade através do ciclo natural das plantas, sem afetar o desenvolvimento saudável das mesmas.

A Living Light é um projeto da empresa de Ermi, a Nova Innova, e a tecnologia do dispositivo foi desenvolvida pelo Plant-e. Trata-se uma lâmpada totalmente autossuficiente que não precisa de ser ligada a nenhuma tomada para funcionar e é a prova viva de que podemos trabalhar em conjunto com a natureza para satisfazer as nossas necessidades básicas.
O primeiro protótipo foi apresentado em 2016 e a lâmpada está agora em fase de pré-venda, mas apenas nos Países Baixos. Com ela, vem uma de duas plantas — a Spathiphyllum ou a Chamaedorea Elegans. Os compradores podem optar por colocar uma planta à escolha, mas a empresa não se responsabiliza pelo risco. Nos próximos anos, espera-se que a Living Light chegue a mais países.
Um dos objetivos de Ermi é recuperar a simbiose perfeita entre o homem e a natureza e relembrar-nos do valor e poder desta. A trabalhar em conjunto com o Plant-e, a equipa da Nova Innova sonha com um futuro em que as florestas são fábricas de energia sustentáveis, as cidades são iluminadas por parques e os ecossistemas não são afetados pelo homem.
Em Moscovo, em 2018, a arquiteta e designer russa Elena Mitro criou um projeto semelhante ao de Ermi, a funcionar da mesma forma — o Green Spark. No caso, tratam-se de vasos de cerâmica suspensos munidos de baterias, com diferentes espécies de plantas.

As baterias foram pensadas para ajudar na adaptação das plantas aos vasos, que têm três entradas — duas para garantir a ligação elétrica e uma para irrigação — cuja parte inferior é à prova de àgua e o resto feito de argila porosa. Na altura, Elena criou uma instalação com 86 baterias que carregou dois telemóveis ao mesmo tempo. O desejo para o futuro é, claro, integrar o projeto em escala urbana.
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