A época em que vivemos é marcada por um grande paradoxo. Se, por um lado, temos ao nosso dispor uma quantidade generosa de informação sobre como cuidar melhor da nossa saúde e viver de forma consciente, por outro lado, temos a agitação do dia-a-dia e a agenda sempre demasiado preenchida.
Cada vez mais pessoas sabem ou já leram algo sobre mindfulness e os seus benefícios, assim como sobre a inteligência emocional. Contudo, encontrar o tempo ou a energia para colocar estes conhecimentos em prática é todo um outro desafio.
A grande verdade, e que todos os praticantes de mindfulness atestam, é que tornar estas práticas parte da nossa rotina traz-nos mais energia, melhor gestão de tempo e uma maior satisfação com a vida no geral.
Como pode, então, fazer este clique e passar à prática? Este artigo irá encorajar este movimento através de dicas simples e ferramentas intuitivas. Mas, primeiro, vamos rever alguns conceitos.
Inteligência Emocional e Autorregulação
A inteligência emocional é o conjunto de competências que nos permitem estar conscientes das nossas emoções, compreendê-las e regulá-las. Ajuda-nos também a compreender as emoções alheias e o impacto que a forma de nos expressamos tem sobre as mesmas, contribuindo assim para o bem-estar das nossas relações.
Começando pela inteligência emocional – em que consiste e como nos pode ser útil?
A nossa inteligência é composta por diversas competências, desde o processamento da informação que está à nossa volta à tomada de decisões, permitindo-nos estar em equilíbrio e usufruir da vida ao máximo.
A inteligência emocional é o conjunto de competências que nos permitem estar conscientes das nossas emoções, compreendê-las e regulá-las. Ajuda-nos também a compreender as emoções alheias e o impacto que a forma de nos expressamos tem sobre as mesmas, contribuindo assim para o bem-estar das nossas relações.
“O cérebro emocional responde mais rapidamente aos acontecimentos que o cérebro racional.” Daniel Goleman
Somos seres sobretudo emocionais, e os nossos cérebros demonstram isso mesmo. As emoções são como uma bússola interna que nos indica onde está o equilíbrio e os que nos faz bem ou mal. São a nossa primeira forma de nos regularmos, desde bebés, antecedendo o pensamento e a linguagem. Por isso assumem o protagonismo nos nossos cérebros, com toda uma região central dedicada ao seu processamento, e conectada a todas as restantes regiões cerebrais.
As emoções encorajam-nos a agir através de impulsos que movem os nossos corpos e influenciam o nosso comportamento. Por vezes são desconfortáveis e por isso indesejáveis. No entanto, elas são cruciais para que possamos voltar ao nosso equilíbrio. Por isso, é importante estarmos conscientes delas e do que nos podem estar a tentar dizer. A capacidade de parar e observar o que passa no nosso interior é o que nos permite regularmo-nos a nós mesmos, e isto leva-nos ao mindfulness.
Mindfulness
Uma palavra cada vez mais frequente na nossa comunicação – o que significa de facto?
O termo “mindfulness” significa atenção plena, uma presença consciente, uma forma de estar que se traduz por uma sabedoria de si mesmo. Na prática, consiste numa técnica de meditação vinda do oriente que nos convida a olhar para dentro e tomar consciência de como estamos.
“Mindfulness significa prestar atenção de uma forma específica: de propósito, no momento presente e sem julgamentos”. Jon Kabat-Zinn
Independentemente da sua origem, o mindfulness não têm nenhuma raiz esotérica ou religiosa. Na verdade, é atualmente a disciplina de origem oriental mais estudada pela ciência ocidental, tendo demonstrado inúmeros benefícios para a nossa saúde e bem-estar. O seu conjunto de práticas permite-nos fortalecer a mente através da capacidade de gerir a atenção. Afinal, a atenção é como um músculo e, como qualquer músculo, precisa de ser treinada.
A nossa mente tende a divagar, é da sua natureza saltitar de um pensamento para outro, ajudando-nos a processar o que se passa à nossa volta. No entanto, quando assume um ritmo incontrolável ou um caráter negativo, em nada nos ajuda. Nesses momentos, tomar consciência do fluxo do pensamento e redirecionar a nossa atenção pode fazer a diferença.
A mente é uma ferramenta que deve estar ao nosso serviço e não contra nós, uma função que devemos saber utilizar sabiamente – o que implica estar atento tanto ao seu ritmo como ao conteúdo e se nos está a ajudar ou, pelo contrário, a esgotar.
Assim, o convite desta prática é exatamente esta paragem consciente para olhar para dentro e observar como estamos, nesse preciso momento, sem julgar o que se passa em nós. Se a mente divaga, trazemos a atenção de volta ao presente, ao nosso corpo, à nossa respiração, às nossas emoções.
Juntando As Peças
"Permita-se sentir durante um momento"
O que acontece se fechar os olhos e perguntar a si mesmo como está, neste preciso momento?
Observar as sensações presentes, sem as rotular como boas ou más, apenas sentindo-as tal como são.
Como é sentir o seu corpo, desde a forma como os seus pés contactam com o chão ou o interior do calçado, até às mãos, aos músculos do rosto? E a sua respiração, desde a entrada do ar pelas narinas, enchendo o peito e a zona abdominal?
Permita-se sentir durante um momento.
A mesma qualidade de atenção pode ser direcionada para as emoções: o que sente neste momento? Alegria, frustração, entusiasmo, agitação... E poder observar como as emoções se sucedem, dando lugar umas às outras, e como influenciam todo nosso corpo. Cada vez que experienciamos uma mudança emocional, ocorrem pelo menos 1400 alterações bioquímicas no interior do corpo instantaneamente – influenciando o nosso ritmo cardíaco, digestão, imunidade, postura e motivação, apenas para mencionar alguns sistemas.
E se esta mudança for consciente?
Ao fazer pausas como esta ao longo do dia, irá verificar que existe um sentir para cada momento, desde que acordamos, e que cada acontecimento do dia gera uma reação emocional.
Poderá então verificar o impacto destas reações emocionais na sua vida e no seu bem-estar. Melhor ainda, poderá mover a sua atenção e, conscientemente, influenciar o seu estado global – de espírito, mente e corpo.
“A meditação mindfulness tem demonstrado melhorar a capacidade de inibir esses impulsos emocionais tão rápidos.” Daniel Goleman
Prestar atenção a esta experiência contínua alimenta uma postura consciente. A sabedoria que advém desta postura permite-nos saber de onde vêm as nossas emoções, como se manifestam em nós, que pensamentos vêm a si associados e como nos encorajam a agir.
Este nível de consciência oferece-nos um momento entre o sentir e o agir, o que nos dá a liberdade de escolher a forma como reagimos a algo. Permite-nos também procurar formas mais equilibradas de nos expressarmos ou de nos regularmos – respostas escolhidas por nós, de acordo com a nossa bússola interna.
Passando à Prática
Para terminar, vamos explorar um dos exercícios mais utilizados no mindfulness – a respiração consciente. Seguindo estes passos, traga consciência ao seu dia e tente disfrutar da experiência:
· Sente-se num banco ou cadeira, de forma confortável, mantendo uma postura ereta mas não rígida
· Permita que a sua atenção viaje um pouco por todo o corpo, procurando alguma zona tensa e que possa tornar-se um pouco mais descontraída
· Traga agora a atenção para a sua respiração, observando todo o processo desde a entrada do ar pelas narinas até à região abdominal
· Não procure alterar a sua respiração, apenas a observe como está neste momento
· Escolha um detalhe da sua respiração que possa servir como âncora – poderá ser o movimento do peito a encher e esvaziar a cada inspiração e expiração, o movimento da barriga, a sensação do ar a passar através das narinas
· Focalize toda a sua atenção neste detalhe e fique com ele tão presente quanto possível
· Cada vez que a atenção divagar, convide-a a regressar usando a âncora que escolheu, sem fazer julgamento
· Continue durante 5 minutos e observe como se sente no final
Marcelo Lopes, Psicólogo da Saúde com formação em psicoterapia corporal, mindfulness e técnicas de respiração.
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