
Ter um cão permanentemente acorrentado viola a lei portuguesa sobre o acondicionamento de animais (Decreto-Lei n.º 276/2001 e Decreto-Lei n.º 315/2003) . Ainda assim, é o pão nosso de cada dia. Um passeio mais atento por zonas de moradias, com espaços exteriores, é suficiente para constatar que ainda há muitos cuidadores que acorrentam os seus animais, privando-os de contacto social e de liberdade de movimento.
Mas ao contrário do que se possa pensar, ter um cão acorrentado não é sinónimo de falta de amor da parte dos donos. O que acontece, muitas vezes, é que estes não têm os meios financeiros suficientes para providenciar um espaço onde o animal possa movimentar-se livremente e em segurança. Prendem-nos, sem saber que um gesto que consideram de proteção, é prejudicial para os seus animais.
Foi ao deparar-se com esta realidade que Tânia Mesquita, que trabalha na área da psicologia comunitária, decidiu agir, criando o primeiro movimento de libertação de cães acorrentados, em Portugal. A ativista fundou a associação Quebr'a Corrente, em 2017, e o movimento já libertou mais de 100 cães acorrentados, com a ajuda de 500 ativistas.
O problema das correntes
Os cães são, como nós, seres sociais. Precisam de contacto, de carinho, de amor e de liberdade. Acorrentados, estão privados de tudo isso. A solidão de um cão acorrentado pode gerar stress emocional e depressão. Não é de estranhar que um animal deprimido se recuse a comer e a beber água, desenvolvendo, a longo prazo, outros problemas de saúde. Mas o problema está longe de ser só este.
Para que cumpram o seu propósito, as correntes que prendem os cães são, geralmente, curtas. Os animais não conseguem locomover-se como querem e, sobretudo, como precisam. Deste modo, a capacidade motora e o desenvolvimento das patas podem ficar comprometidos. Um cão acorrentado está circunscrito ao espaço até onde a corrente lhe permite mover-se, insuficiente para as suas necessidades. Ao tentar chegar mais longe, pode, também, magoar-se na zona do pescoço — onde as correntes costumam estar presas.
Finalmente, com menos interação social, um animal acorrentado, torna-se mais defensivo e, por isso, mais agressivo. Segundo o site do Quebr'a Corrente, estes cães têm oito vezes mais probabilidades de morder.
De resto, estarão mais vulneráveis a ataques, visto que não têm como se soltar para fugir. No caso das cadelas, a probabilidade de serem engravidadas, acidentalmente, também aumenta.
O Quebr'a Corrente
O movimento Quebr’a Corrente surge para resolver todos estes problemas, de forma simples e pragmática, com ação no terreno. A associação propõe-se a libertar os cães acorrentados, através da criação de espaços exteriores vedados onde poderão estar, livremente, e em segurança.
A ação do Quebr’a Corrente é sempre feita em colaboração com os donos dos animais. A filosofia deste movimento não é de julgamento, mas sim de ajuda e compreensão, e nem podia ser de outra maneira. O Quebr'a Corrente acredita que muitos dos cuidadores que mantêm os cães acorrentados o fazem por amor e proteção, sem noção do quanto os estão a prejudicar, porque não têm meios financeiros que lhes permitam criar um espaço vedado e seguro para os seus animais.
Em colaboração com os cuidadores, os voluntários e ativistas do movimento providenciam os equipamentos necessários à criação de espaços seguros, adequados aos cães e ao seu desenvolvimento saudável — como vedações e abrigos.
A ação do Quebr'a Corrente foca-se, sobretudo, em cuidadores com carências económicas, mas o objetivo é, sempre, ir ao encontro das necessidades de cada animal. Como ajudar:
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